Tempo de Águas no Sertão: Chuvas no Céu, Plantação no Chão e Esperanças no Coração do Sertanejo.


O Chão que vive seco, que leva a esperança do matuto sertanejo nas revoadas dos pássaros no céu do Sertão. O chão seco que nada faz brotar, santuário de alucinações em noites estraladas a cobrirem a capoeira. Mato seco, terra seca, estradas poeirentas, mormaço quente, calor acarinhado e companhia constante, lamentos e mistérios do sertanejo. Mas o Sertão é força, o Sertão é fé, é oração, rezas proferidas por aqueles que nascem e vivem nessas terras, nesses chãos, nesse recanto sagrado, coração e flor de formosura, cântico interiorano a apresentar a vida do Sertão e a esperança do compilar entre Pessoa, Lugar e Fé.

Quando o calor canta no íntimo da desesperança, o céu avisa em forma de raios e trovoadas, que novos tempos estão a chegar. É tempo da água que brota da nuvem lavar as poeiras da seca, é tempo das lágrimas humanas serem abraçadas por lágrimas alegres do céu. Intensa relação entre mortal humano e Infinito Horizonte Divino.

As chuvas de verão transportam a esperança, o tamborilar dos seus pingos nas telhas de cerâmica trazem a calma necessária para o apreciar desses tempos. Tempos de água corrente no Rio do Antônio, tempos de terra irrigada, tempos de plantar feijão e milho nas lavouras desses chãos.

As águas que em pretéritos tempos lavaram o corpo negro do escravo Manoel Caculé, corpo cansado, corpo de menino guerreiro. As mesmas águas que também banharam a alva pele de Dona Rosa, e dos seus, no terreiro do seu casarão, que ainda vive no Caculezinho. Pois a chuva do Sertão sempre é sinônimo de recomeço, de novo chão, nova plantação, novas águas no correr do rio e no renovar do manancial da Lagoa do Caculé.

E assim, as terras do Sagrado Coração de Jesus, terras de Caculé, são acarinhadas pela águas que vem do céu, pela chuva que chega com a intenção de fazer companhia ao mês de fevereiro, invernando-o em épocas do verão.

A chuva que o sertanejo fita nesse céu vem calma, a entoar esperanças em novos amanhãs. As terras que estavam secas, hoje se juntam às águas que lhes foram presenteadas pelo céu, e como retribuição, exalam perfume de terra molhada, um verdadeiro regozijo para os que habitam nesses chãos. A vegetação que outrora lamentava a sequidão, agora baila formosa, verde e florida, a rescender perfume de gratidão. A plantação agora pode nascer, fazer brotar da semente implantada na terra, o alimento, fonte de vida para o sertanejo. Quanto a este, um dos sujeitos dessa relação paternal, maternal e humana, além de viver os tempos das águas, é necessário agradecer, louvar a fé professada, e com sinal de gratidão, se entregar à dança da vida, no palco do Sertão, a sentir a chuva e o seu refrescar, a se compreender como criaturas em ato filial de agradecimento ao Criador.

Autor: Williams Matheus Fernandes Araújo.

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