Sujeito, Sociedade e Estado: O Brasil e as utopias no cenário atual


“Você deve notar que não tem mais tutu e dizer que não está preocupado. Você deve lutar pela xepa da feira e dizer que está recompensado. Você deve estampar sempre um ar de alegria e dizer: tudo tem melhorado. Você deve rezar pelo bem do patrão e esquecer que está desempregado…” Com esses versos compostos por Gonzaguinha, na canção “Comportamento Geral”, a nossa imaginação viaja por toda uma atualidade caótica que abraça a sociedade humana, nos conduzindo ao encontro com a cruel segregação espacial que dilacera as relações entre os sujeitos e produz inúmeras desigualdades em todas as esferas sociais.

A partir do momento em que o cidadão se vê refém de uma sociedade programada para seguir um padrão organizacional imposto por um governo pseudodemocrático, as relações entre os sujeitos se desestabilizam, assim como a relação entre os já citados sujeitos e a administração pública do país palco das relações ora descritas: o Brasil.

Um país que vive em face de uma constante guerra civil está fadado à decadência institucional, principalmente quando os seus membros são antagonistas no processo de desenvolvimento, e os ditos menos favorecidos são atingidos pela carência de instrumentos fundamentais para uma digna e saudável vida humana, como um sistema de saúde realmente eficiente, educação de qualidade em todas as fazes de ensino, segurança pública garantidora da aplicação efetiva do usufruto dos direitos fundamentais pelos cidadãos, alimentação saudável a preços acessíveis a todos, e demais direitos usurpados pelo desgoverno em desfavor dos membros dessa sociedade.

Regressando ao prelúdio do presente texto, quando se destacou a canção “Comportamento Geral”, escrita por Gonzaguinha na década de 70 do século XX, período em que o Brasil se encontrava governado pelos generais, em estado de Ditadura Militar, é nítida a desvalorização dos menos favorecidos monetariamente, por parte do governo, mesmo o Brasil sendo um país que possui meios primários – e mal geridos – de oferecer a utópica dignidade devidamente efetiva.

O cenário atual, século XXI, em dias do ano de 2018, se apresenta como degradante, pois a Democracia, regime político atuante no estado brasileiro, é facilmente atingida pelas armas violentas da corrupção, em todas as esferas sociais e políticas.

A administração pública brasileira concentra em sua cúpula os herdeiros dos grandes latifúndios da nação, que fazem de tudo para se manterem na ativa no cenário político, em sua maioria composto por representantes de famílias tradicionais, que levam para o plenário a visão oblíqua, patriarcalista e machista, implícita e também explícita em seus discursos heterogêneos, criando assim, um clima de revolta na mente e na vida da população.

Os panoramas administrativos e sociais atuais se mostram por demasiado movimentado. A cada dia uma nova denúncia, e suas consequentes investigações, além da cotidiana luta pela sobrevivência, em face da atuante violência sentida em todos os ambientes. As sociedades se evoluíram ao longo da história, mas o instinto voraz do bicho homem continua impregnado em sua essência mais vil, originando assim, uma rotineira batalha de egos e uma geral desestabilização na retidão do bem.

Fitar a vida como uma grande oportunidade de ser feliz e de proporcionar a felicidade para o próximo, apagando os conceitos de vale tudo do convívio, e conduzindo o viver por caminhos honestos e íntegros, é a única garantia para um futuro digno, ultrapassando-se assim as idéias utópicas, e produzindo efetivamente a justiça, a dignidade humana e social, a cidadania e o bem estar.

“Só existe opção quando se tem informação… Ninguém pode dizer que é livre para tomar o sorvete que quiser se conhecer apenas o sabor limão”, pensamento escrito por Gilberto Dimenstein que dialoga com a observação atual do cenário político brasileiro, quando de fala tanto sobre democracia, política e liberdade, mas que ao mesmo tempo se limita apenas ao ato de falar, não abraçando efetivamente os conceitos apresentados pelas idéias, conhecendo-se apenas o nome e produzindo distúrbios ilegítimos, construindo, portanto, uma sociedade robótica, composta por cidadãos de papel, fazendo alusão a uma obra também do autor supramencionado.

Assim sendo, o Brasil se caracteriza por ser uma nação em constante, e ao mesmo tempo retardado processo de desenvolvimento, um país carente de instrumentos necessários para suprir as necessidades do seu povo, em todas as esferas, mas ao mesmo tempo, um povo mantenedor de uma honra patriota, atingida cotidianamente por agressões administrativas.

Por conseguinte, o povo brasileiro precisa ser mais pensante, atuante e cidadão, administrando essa tão atingida cidadania com a necessária sabedoria, atuando como sujeitos fundamentais para a evolução da pátria mater, como realmente são, com muita fé, confiança e esperança, sendo amor, luz e paz, e produzindo o amor, a luz e a paz, e para finalizar, também com um verso escrito e cantado por Gonzaguinha, “eu sei, que a vida devia ser bem melhor e será”.

Por: Williams Matheus Fernandes Araújo.

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