No primeiro dia como presidente interino da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (29), o 2º vice-presidente da Casa, André Fufuca (PP-MA), de 28 anos recém-completados no domingo (27), foi alvo de piadas por parte de colegas por suas bochechas rosadas e sua pouca idade. Diante do desafio, Fufuca resolveu assumir a postura de deputado dedicado e passou parte da tarde estudando a pauta a ser votada no plenário nos próximos dias.
O médico, que está em seu primeiro mandato como deputado federal, herdou a Presidência da Casa porque o atual mandatário, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi elevado ao posto de presidente da República interino com a viagem de Michel Temer (PMDB) à China, em busca de investidores para as privatizações propostas pelo governo. A Câmara deveria ficar sob comando do primeiro vice, Fábio Ramalho (PMDB-MG), mas ele também embarcou com a comitiva presidencial para a Ásia, permitindo a Fufuca assumir o cargo até o próximo dia 6 de setembro.
À tarde, o presidente interino da Câmara se dedicou a receber parlamentares e outras autoridades no gabinete da Presidência enquanto ocorria a sessão conjunta do Congresso Nacional, comandada pelo presidente do Congresso e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Ao entrar no plenário, por volta das 18h, Fufuca foi cercado por colegas de diversos partidos, governistas e de oposição, que buscavam espaço para ter breves conversas ao pé do ouvido com o substituto temporário de Maia. O caminho de Fufuca se desenhou sempre sob os olhares atentos de policiais legislativos.
Ironias e audiências
O início da “era Fufuca”, porém, não deixou de virar motivo de piadas entre deputados. Um parlamentar da oposição falou que iria relembrar que Fufuca chamava o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso pela Lava Jato, de “papi”.
O descrédito com o jovem presidente era tanto que, em um momento, ao microfone, o senador Magno Malta (PR-ES) pediu mais respeito e disse que o maranhense havia chegado à Câmara “ungido pelo voto”. O discurso foi aplaudido pelos parlamentares presentes.
No caminho de volta do plenário para o gabinete da Presidência da Câmara, Fufuca disse que estava preparado para encarar o desafio com o “pé no chão e humildade”. “Para mim, o que muda é o posto, mas o ser humano ainda é o mesmo”, declarou, admitindo que “muita coisa” mudou na rotina, que incluiu “várias” audiências.
Segundo a assessoria de Fufuca, diversos parlamentares passaram pelo gabinete para cumprimentá-lo pela interinidade. Ele também se reuniu com o secretário-geral da Mesa Diretora, Wagner Padilha, para estudar a pauta a ser levada ao plenário da Câmara e como conduzir o processo.
Encontro com Temer e conselho da imprensa
No início da manhã, Fufuca compareceu à transmissão de cargo de presidente da República por parte de Temer a Maia. O ato aconteceu na Base Aérea de Brasília pouco antes do embarque de Temer e a comitiva para a China, como de costume quando o titular do Palácio do Planalto se ausenta do país.
Mais tarde, ele participou da reunião de lideranças partidárias na residência oficial da Câmara para tentar se chegar a um consenso sobre a reforma política, sem sucesso. Embora esteja como presidente da República em exercício, Rodrigo Maia também fez questão de estar presente ao encontro.
A reunião durou cerca de duas horas. Na saída, um líder partidário brincou que Fufuca tinha comprado terno novo, penteado o cabelo e estava “todo sério” durante a ocasião. Após pedidos por parte da imprensa, Fufuca saiu do carro oficial da Presidência da Câmara cercado de seguranças para comentar o encontro e falar sobre a definição da pauta da semana. Sem tanta experiência, os repórteres tiveram de explicar ao deputado como ele deveria se posicionar para ficar em frente às câmeras.
Na entrevista, Fufuca afirmou que a terça seria uma “maratona” de votações no plenário da Câmara, tanto em sessão do Congresso quanto da própria Casa. Entre as pautas, vetos presidenciais e três destaques da Medida Provisória que cria a TLP (Taxa de Longo Prazo) para empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Ele disse também que sua prioridade à frente da Câmara seria um acordo para um novo texto do Refis, programa de renegociação de dívidas de empresas com o Fisco.
Todas essas matérias são de interesse do governo. Fufuca, inclusive, chegou a se reunir com Michel Temer e Rodrigo Maia no Planalto na manhã desta segunda (27) para acertar sua atuação. “Estamos aguardando o término da sessão do Congresso para começar, e se não houver tempo hoje, amanhã [quarta] pela manhã nós daremos prosseguimento a isso”, disse Fufuca a jornalistas mais tarde já na Câmara.
Quanto à reforma política, que continua sem consenso, disse pretender votar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que impõe o fim das coligações e a cláusula de barreira nesta quarta (30). O texto foi relatado pela deputada Shéridan (PSDB-RR). Nesta terça, ela ainda buscava fazer acordos para tentar aprovar a matéria. Segundo Fufuca, não é preciso “unanimidade, mas certa unidade”.
Fonte: UOL