Coisas do Sertão. Por Eledilce Lílian Peixinho Mira

Mandacaru “flor do sertão”, fruta, vermelha de madura, desafia a natureza, ele é a alegria que surge no olhar do sertanejo! Verde, surge como a esperança e mesmo nas intempéries, ele continua firme e forte como a índole do homem do sertão. Este, sai para a lida sem saber o que vai trazer “mei dia” para os seus filhos, mas sertanejo é assim, não desiste nunca! Olha para cima, confiante na fé de que irá cair gotas de luz e vida no sertão: a chuva que tarda cair, mas não falha, como a fé incansável do sertanejo em Deus. Nordestino é assim: Não dorme, tira um cochilo, esperando sempre o amanhã: o futuro feliz que um dia poderá surgir!

A terra arde!!! A aridez é tanta, que cria sulcos profundos na riqueza do sertão e o sertanejo chora esperando que as suas lágrimas transformem-se em água benfazeja e pura, para acabar com a sua sede inundando a natureza. E surge um dia, outro e depois outro… mesmo que a chuva não apareça, ele continua a sua jornada… enxada nas costas… “bocapio” na mão… espingarda ou “badogue” do lado… esperança na cabeça… olhos no horizonte… Ele sai… de criação só o bode sobrevive… o umbu, fruta suculenta: alimenta a criação. Verde, ele também continua lembrando que no sertão é assim: tudo persiste por pura teimosia.

Carne seca, pirão de aipim, carne de bode, galinha de capoeira, farinha, feijão se tiver, desta forma, ele se alimenta buscando forças para prosseguir. Depois do alimento… a inesquecível rapadura acompanhada da farinha de mandioca “um bocadinho na palma da mão” que, num gesto, é arremessado até a boca automaticamente. Ah!!! Esqueci da pinga para “abrir o apetite”, “ uma quente” é assim que se fala no sertão. Depois é deitar na rede “tirar uma “madorna” e se tiver com a barriga muito cheia “periga encontrar com a pisadeira , o lobisomem ou ainda com “luzerna”. “Vixe Maria”!!! “Pé de pato mangalô três vezes” para não acontecer ou ainda “bate na madeira!”. Sendo final de semana, pode até acontecer um forró na casa de um “cumpade” é “arrasta pé inté de manhã, inté o sol raiá”!!! o fole da sanfona chora e sorri e o sertanejo esquece da dor de viver no sertão que de verde só tem a palma, o mandacaru, o sisal e a esperança que não acaba.

O vaqueiro, de gibão e chapéu de couro, explora a caatinga no seu cavalo magro, mas forte que teima em sobreviver e trazer alegrias para o seu dono. Assim também é o cachorro do sertanejo: Magro, fiel escudeiro no caminho da caça, guia na frente sinalizando o alimento que poderá vir… Lá ao longe, o ouricuri ou “licuri” “eita que beleza”!!! Pode até fazer uma cocada aproveitando a água da cacimba que, “barrenta e salobra”, não dá nem pra criação…

Ele pede: “bença mainha” e sai feliz por saber que se teve a “bença” da mãe!!! Quem sabe poderá ter uma “nesga de Esperança” e “ser apanhado de sorte”? Algo de bom pode acontecer! Porém, antes ele “se benze e pede a Virgem Maria ou a o Sr São José a permissão para sair, e, mais uma vez, que a chuva possa cair. Valei-me Nossa Senhora!!! Começa um “redemunho” e uma ventania que só!!! Corre menino a chuva vem lá no “pé da serra”!!! E escurece o céu do sertão! Todos olham para o céu como se esperassem ouvir a voz de Deus!!! E gotas de vida percorrem o solo do sertão, que se deixa penetrar e recebe, com alegria, a água que inunda de felicidade e esperança o solo sertanejo. O verde cobre tudo que tem vida, o sertão tem de tudo que se precisa e o que ainda não existe, o sertanejo inventa!!!

Coisas do sertão!!! Vida de sertanejo!!! Podemos até pintar um quadro com diferentes cores e nuances. Porque o sertão é assim: singular e plural.

Eledilce Lílian Peixinho Mira

Pedagoga, Especialista em Educação Transpessoal e Arteterapeuta Junguiana.