As crianças que melhor aprenderam a ler e escrever no Brasil vivem no sertão do sertão do Nordeste. Seus pais são analfabetos e plantam o que a família come. A área é um bairro na zona rural de Granja, no Ceará, e fica a 1h30 de carro do centro da cidade. As poucas ruas, de terra, têm porcos, cabras e vacas perambulando soltas. Os móveis das casas se resumem a uma TV de tubo, um sofá e uma rede; não há livros.
Na última edição da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), os alunos de 8 anos da Escola Nossa Senhora Aparecida, na zona rural de Granja, tiraram a melhor nota do Brasil em leitura e em escrita. Granja tem ainda nove escolas entre as dez melhores no ranking nacional de leitura, segundo tabulação feita pelo Estado.
No sertão cearense ou no interior de São Paulo, onde estão algumas das escolas públicas com melhores resultados na avaliação federal, ninguém está preocupado com polêmicas em torno dos métodos de alfabetização.
Professores ensinam os sons das letras – prática típica do chamado método fônico – e alfabetizam por meio de jogos, reflexões e textos do cotidiano – algo presente no construtivismo. Misturam, experimentam, tentam de todas as formas atingir uma meta clara: não deixar nenhuma criança para trás.
O debate sobre como alfabetizar se tornou recentemente mais uma disputa ideológica na educação. O cenário é gravíssimo. Atualmente, mais de 50% dos estudantes de 8 anos no País não sabem ler adequadamente. E cerca de 35% não conseguem escrever.
A deficiência nessa etapa crucial funciona como uma bola de neve. Muitos dos que não se alfabetizam na idade certa passam a vida sem aprender quase nada, mesmo que dentro da escola. Ou então reprovam, abandonam os estudos.